Thursday 31 December 2015

O segredo do Obelisco (da Praça) dos Restauradores

Não há em Lisboa quem não pergunte o que significa o obelisco no centro da Praça dos Restauradores, além do seu significado imediato como monumento patriótico inaugurado em 28 de Abril de 1886 como projecto do arquitecto António Tomás da Fonseca. Terá algum significado esotérico ou escondido este monumento? Será obra secreta da Maçonaria Portuguesa? Afinal, o que significa este obelisco e porque está aqui?

Inauguração do Monumento aos Restauradores |28 de Abril de 1886|
 Praça dos Restauradores, vendo-se na tribuna o Rei  D. Luiz
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Por causa do seu formato, o obelisco é o símbolo do raio do Sol, ligando-se ao mito da ascensão solar e à «luz do Espírito penetrante» por causa da sua posição erecta e da ponta piramidal em que termina. Tendo tido uma importância excepcional na religião do Antigo Egipto que cultuava o Espírito do Sol, representativo de Deus Supremo, o simbolismo do obelisco veio a ser importado daí para a Europa pelas antigas confrarias de construtores-livres reunidas sob o nome genérico Maçonaria. Talhado num único bloco de pedra (monólito), o obelisco condiz até no nome com o seu significado solar, pois deriva do grego obeliskos como diminutivo de óbelos significando «agulha», como referência ao seu término pontiagudo.

Monumento aos Restauradores |1888|
Anjo da Vitória, por Simões de Almeida
Praça dos Restauradores e Avenida da Liberdade, ao cimo, os pavilhões da Exposição Industrial e Agrícola
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O obelisco era considerado com a petrificação do raio solar, acreditando-se que a Divindade animava ou existia dentro da estrutura. Esta crença egípcia seria adoptada pela Maçonaria depois de 1717, chegando a dizer o maçom Albert Pike no seu livro Dogma e Moral: «Daí a importância do obelisco, erguido como um emblema da ressurreição da Divindade enterrada». Foi assim que os maçons passaram a ter o obelisco como símbolo da Fraternidade Interna Invisível ou Espiritual, a mesma que a Igreja chama Comunhão dos Santos e outros de Grande Fraternidade Branca
.
Monumento aos Restauradores |séc. XIX|
Anjo da Luz, ou Génio da Independência, por Alberto Nunes
Praça dos Restauradores e Avenida da Liberdade
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

O simbolismo solar deste obelisco nos Restauradores, com 33 metros de altura, é ainda representado pelo Anjo da Luz, que vai bem com a natureza astrolátrica [adoração dos astros] do monumento, ou seja, o Génio da Independência, [voltado para a Avenida da Liberdade], obra do escultor Alberto Nunes, e que é o próprio Prometeu liberto dos grilhões que o escravizavam, neste caso particular, incarnando a alma liberta de Portugal do jugo Filipino no século XVII. Essa estátua de bronze é completada no significado por outra no lado oposto, a Vitória [1ª e 2ª imagens], escultura de Simões de Almeida. A escolha do metal bronze é também muito significativa, pois entre os antigos egípcios era considerado como a “carne dos deuses”, juntamente com o ouro que aqui figura só no Sol de Lisboa. Fica assim revelado o segredo deste singular Obelisco dos Restauradores.
[Simbolismo esotérico, Mistérios de Lisboa. por Vitor Manuel Adrião, historiador]

Monumento aos Restauradores |ant. 1892|
Anjo da Luz, ou Génio da Independência, por Alberto Nunes
Praça dos Restauradores; à direita, o Hotel Avenida Palace em construção.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Wednesday 30 December 2015

Estr. de Benfica, ou de Palhavã

Estr. de Benfica, ou de Palhavã, como se pode constatar na placa toponímica no muro do Parque José Maria Eugénio, hoje Fundação Calouste Gulbenkian na Rua Doutor Nicolau de Bettencourt, que era um troço da Estr. de Benfica, compreendido entre o Largo de S. Sebastião da Pedreira e a Praça de Espanha.

Estr. de Benfica, ou de Palhavã [1946]
Actual Rua Doutor Nicolau de Bettencourt, junto à Gulbenkian [Inundações de 1946]

Ferreira da Cunha, in AML
Estr. de Benfica, ou de Palhavã [1946]
Actual Rua Doutor Nicolau de Bettencourt; 
Av. António Augusto de Aguiar e Palácio Palhavã. Os muros do parque José Maria Eugénio (dir.) que foram demolidos para prolongamento da Praça de Espanha.
Ferreira da Cunha, in AML

De acordo com a entrada BENFICA (Sítio de ), no Dicionário de História de Lisboa (Lisboa: Carlos Quintas & Associados - Consultores, Lda., 1994), « Benfica surge como aldeia desde o séc. XIII, em redor da igreja primitiva de N. S. do Amparo. Próximo do actual Sete Rios, instalaram-se em 1399 os dominicanos, nos paços reais doados pelo Rei D. João I. Havia, assim, como que dois pólos na freguesia de Benfica e, para distinguir a zona dos paços reais e depois do convento dominicano, esta vai surgir referida como Benfica-a-Nova, ou Benfica de Baixo. O crescente povoamento da região ao longo dos tempos deu origem ao aparecimento de novos lugares: Calhariz no séc. XIV, Cruz da Pedra no séc. XVI e, entre estes dois pontos da espinha dorsal que era a Estrada de Benfica, surgiram mais tarde outros núcleos». (cml-lisboa.pt)

Rua Doutor Nicolau de Bettencourt, antiga Estr. de Benfica, ou de Palhavã [1957]
À direita, o muro do parque da Fundação Calouste Gulbenkian; ao fundo, a Praça de Espanha.
Judah Benoliel, in AML

Convento de Santa Joana (Princesa)

Sobre este antigo convento, sito na Rua de Santa Marta, refere o olisipógrafo Norberto de Araújo o seguinte: 
Agora encontramos, à direita, um enorme casarão, em cujos baixos está instalada a esquadra da policia de Santa Marta, edifício que corresponde ao Convento de Santa Joana (Princesa), que bastante nomeada teve em Lisboa.  
No século XVII por estes sitios campeavam as casas e quintas de D. Álvaro de Castro, senhor do Paúl de Boquilobo, que em seu testamento deixara uma boa parte da propriedade destinada à construção de um hospício para Missionários da Índia. Fundou-se nela, porém, em Novembro de 1699, um convento de frades dominicanos. Meio século andado, poucos religiosos restavam em clausura, e, assim, e porque o Terramoto destruíra os conventos das dominicanas da Anunciada e da Rosa, estas religiosas vieram ocupar êste convento «ao Andaluz», que pouco sofrera com o cataclismo, e que o Rei D. José fêz restaurar.
Extintas as ordens religiosas, o convento subsistiu até à morte da última freira; depois ficou ao abandono até que a Câmara Municipal e a Repartição respectiva do Ministério da Fazenda se entenderam (1884) para que a cerca fosse retalhada para urbanização, poupando-se o casarão, que foi aproveitado pelas Juntas de Paróquia vizinhas para serviços de assistência pública
Depois de 1910 começou a casa, bastante decrépita, a servir de arquivo de vários serviços públicos. Desde há anos estão nela instalados parte do Arquivo da Contabilidade Pública e do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, as Inspecções dos Fósforos e dos Tabacos, o Arquivo da Inspecção do Comércio Bancário, algumas repartições das Obras Públicas, vários serviços de beneficência da Misericórdia, a 16.ª esquadra da polícia (Santa Marta), e uma garagem da polícia de Lisboa.
Para muito deu o Convento de Santa Joana (Princesa de Portugal)
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 87, 1939)

Convento de Santa Joana (Princesa) [1927]
Rua de Santa Marta

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

E «para muito mais dará» — dizemos nós, parafraseando o insigne olisipógrafo Norberto de Araújo, senão vejamos:
O «Grupo Hoti» comprou ao Estado o Convento por 11,2 milhões de €uros e vai converter o edifício do século XVIII num hotel que deverá ter a marca Meliá.
O projecto no Convento de Santa Joana integra uma passagem pública entre as ruas Camilo Castelo Branco e Santa Marta, sendo a sua área total de 18,7 mil metros quadrados. É neste espaço que ainda funciona a PSP. «A parte virada para a Rua de Santa Marta é para reabilitar, e o objectivo é construir neste espaço 40 apartamentos, fundamentalmente para venda a compradores estrangeiros que queiram ter os serviços de apoio do hotel».»
A entrada principal do hotel — de 5*, «ou de 4* superior» — , será feita a partir da Rua Camilo Castelo Branco e deverá contar com 160 quartos, de acordo com o projectado. Segundo as previsões da Hoti, a obra deverá começar em 2015, para o hotel inaugurar em 2017.

Convento de Santa Joana (Princesa) [1961]
Rua de Santa Marta , esquadra da P.S.P.

Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Tuesday 29 December 2015

Arco de Jesus, ao Campo das Cebolas

A denominação do Arco provém de uma imagem do Menino Jesus colocada sob a abóbada, ou em cima dela. Também nela existiu um painel de Santo António, dentro de um oratório, por cima do vão da travessa, pelo lado inferior, e que já existiria em 1627. Também chamado Porta (velha) do Mar, ou porta do Furadoiro. Foi uma das doze portas primitivas da Cerca Moura, logo contígua ao Palácio dos Condes de Coculim e dos Duques de Aveiro. 

Arco de Jesus, ao Campo das Cebolas [191-]
Rua Cais de Santarém 
Cunhal brasonado com as armas dos Mascarenhas, condes de Coculim
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Arco de Jesus, ao Campo das Cebolas [1945]
Lado interior junto ao Beco dos Armazéns do Linho; ao cimo corre a Rua de São João da Praça
Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Pois aqui temos o Arco de Jesus — recorda o ilustre Norberto de Araújo. Corresponde ele à Porta da muralha da Cerca Moura, a mais antiga deste lado do mar, e sem dúvida a única existente quando do assédio a Lisboa. Possui, como vês, uma certa originalidade, mesmo pitoresco, mas nada nos diz da significação militar que possuiu no seu longínquo começo.

Arco de Jesus, Campo das Cebolas [c. 1900]
Rua Cais de Santarém
Perspectiva tirada do lado interior
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente
Arco de Jesus, Campo das Cebolas [c. 1900]
Rua Cais de Santarém
Perspectiva tirada do lado interior
José A. Bárcia, iin Lisboa de Antigamente

Bem de admirar-se é esse forte cunhal brasonado das armas dos Mascarenhasmuitos Mascarenhas titulares houve em Portugal! — , e que corresponde ao apelido dos Condes de Coculim.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 25, 1939)

Antigas Portas de Benfica

Seguindo a estr. de Benfica, vai-se ter às antigas portas fiscais e por aí é o caminho para a Amadora e Queluz. [Proença: 1924]
 
Os vários edifícios construídos ao longo da circunvalação da cidade destinavam-se a albergar unidades da Guarda Fiscal que cobravam o «Real da Água», isto é, impostos sobre o consumo de vários géneros alimentares que entravam e saíam dos limites físicos da cidade.

Os Castelinhos das Portas de Benfica [1970]
[Estrada de Benfica/Estrada Militar]
Arnaldo Madureira, in AML

O nome «Real da Água» foi herdado dos impostos semelhantes que, no «Antigo Regime», eram cobrados com carácter extraordinário para fazer face a despesas de construção de aquedutos e chafarizes.
Foi esta uma das formas de financiamento da construção do Aqueduto Geral das Águas Livres e a sua cobrança prolongada em Lisboa, acabou por transformar este imposto temporário em permanente. O imposto eram particularmente pesado sobre as bebidas alcoólicas e, até à sua extinção em 1922, eram frequentes os episódios de contrabando de álcool nas barreiras da cidade.

Os Castelinhos das Portas de Benfica [1970]
Antigo posto da polícia de trânsito; Estrada de Benfica/Estrada Militar
Arnaldo Madureira, in AML

O projecto, de autor desconhecido, data de 1886. Construidas em estilo neogótico, com ameias inspiradas nos castelos medievais, as Portas de Benfica foram recentemente requalificadas e reinseridas num arranjo paisagístico que conciliou a moderna rede viária com estes últimos sobreviventes dos antigos postos da Guarda Fiscal. (cm-amadora.pt)

Os Castelinhos das Portas de Benfica [1970]
Antigo osto da polícia de trânsito; Estrada de Benfica/Estrada Militar]
Arnaldo Madureira, in AML

Monday 28 December 2015

Cadeia Penitenciária de Lisboa: Abolição do capuz dos reclusos

Em 29 de Janeiro de 1913 é aprovado o decreto que cria a Comissão de Reforma Penal e Prisional e revoga expressamente o regulamento da Cadeia Geral Penitenciária de Lisboa de 1884, admitindo a substituição do regime penitenciário celular pelo regime de prisão maior temporária ou outra. 

A romaria das famílias dos reclusos, à porta da Cadeia Penitenciária de Lisboa [1931]
Rua Marquês de Fronteira
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente
 
Uma das consequências práticas de maior peso simbólico foi a abolição do capuz de utilização obrigatória pelos reclusos, momento retratado em reportagem fotográfica por Joshua Benoliel. Até então vigorava o «Regulamento Provisório da Cadeia Geral Penitenciária do Distrito da Relação de Lisboa, Decreto de 20 Novembro de 1884» que estipulava o seguinte:

Cadeia Penitenciária de Lisboa [1913]
Rua Marquês de Fronteira
No anfiteatro da prisão: os reclusos COM o capuz.
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente

«(...) Os exercícios físicos quotidianos, a efectuar nos pátios ou dependências da cadeia, deveriam assegurar que os reclusos «não tenham entre si comunicação alguma, nem possam conhecer-se» (art. 9.º). Fundamental para manter a incomunicabilidade dos reclusos, que «não poderão, sob qualquer pretexto, ver-se nem comunicar entre si por escrito, por palavras ou sinais», é a utilização por estes, fora das celas, de «um capuz que lhes encubra o rosto e que não poderá ser levantado senão nos pátios de passeio, no anfiteatro da capela, ou em outros lugares em que não esteja presente outro preso» (art. 159.º), o mesmo valendo para os reclusos ocupados «em serviços ou trabalhos, fora das celas», que não podem «dirigir-se por palavras ou gestos aos presos que se ocupem no mesmo serviço, ou que estejam próximos

Cadeia Penitenciária de Lisboa [1913]
Rua Marquês de Fronteira
No anfiteatro da prisão: os reclusos SEM o capuz.
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente

Mais informação sobre a Abolição do capuz dos reclusos em Portugal na Ilustração Portuguesa:
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/…/…/N365_item1/P7.html

Cadeia Penitenciária de Lisboa

De acordo com Norberto de Araújo, nas suas Peregrinações em Lisboa « A Penitenciária de Lisboa, um dos casarões mais tristes da cidade, e que bem demolida seria sem protestos de ninguém — tem sessenta e cinco anos de existência. (o autor escreve em 1939)

Construção da Cadeia Penitenciária de Lisboa |ant. 1885|
Rua Marquês de Fronteira
Redondo, o coração da estrutura Penitenciária radial

Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente
Construção da Cadeia Penitenciária de Lisboa |ant. 1885|
Rua Marquês de Fronteira
Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente
Construção da Cadeia Penitenciária de Lisbo| [ant. 1885|
Rua Marquês de Fronteira
Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente

A lei da pena de morte foi abolida em 1 de Julho de 1867 por Joaquim António de Aguiar. Em 24 de Abril de 1873 o Governo mandava construir uma Penitenciária, mas antes já havia sido escolhido o terreno das «Terras do Seabra»,  a-par de «Entremuros» [hoje Rua Artilharia 1], existindo mesmo já um projecto, anterior à abolição da pena de morte, da autoria de Joaquim Júlio Pereira Caldas, continuado pelo engenheiro Le-Coq, do tipo francês.

Cadeia Penitenciária de Lisboa |c. 1897|
Rua Marquês de Fronteira
Fotografia onde se podem observar as torres por terminar, coroadas provisoriamente com uma espécie de cones

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Em 1874 o engenheiro Ricardo Júlio Ferraz foi à Inglaterra e à Bélgica estudar as prisões do modêlo penitenciário, e acabou, assim, por prevalecer para a iniciativa portuguesa o sistema inglês de Birmingham; as obras principiaram naquêle ano, e só se concluíram em 1885. Os primeiros reclusos deram entrada em 2 de Setembro daquêle ano. 

Cadeia Penitenciária de Lisboa |190-|
Rua Marquês de Fronteira
Corpo central da fachada

Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

O edifício lúgubre tem a forma de uma estrela, ao centro da qual, em rotunda existia até 1910 a Capela. Possui 474 celas, 22 de enfermaria e 12 de castigo. Com a proclamação da República o regime penitenciário pendeu muito do seu rigor; converteu-se a Penitenciária num estabelecimento de expiação e de trabalho, sendo abolidos os capuzes.»  
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 91-92, 1939)

Cadeia Penitenciária de Lisboa |1913|
Rua Marquês de Fronteira
Corpo central da fachada projectado pelo eng. Luís António de Carvalho.

Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday 27 December 2015

Palácio das Açafatas, ou palácio Centeno

O Palácio das Açafatas, ou Palácio Centeno, foi mandado construir no século XVII pela Rainha D. Catarina de Bragança (1638-1705) para as suas as aias (açafatas) inglesas, que não eram meras criadas, mas sim moças fidalgas, suas confidentes, nas proximidades do que mandou construir para si própria, o Paço da Bemposta (marcando o seu regresso à corte portuguesa em 1693). O Paço conserva pouco mais do que os dois portais, conferindo uma expressão marcadamente seiscentista à frontaria.

Palácio das Açafatas, ou palácio Centeno [c. 1900]
Alameda de Santo António dos Capuchos, 1-5
Machado & Souza, in AML

Pelo contrário, o Palácio das Açafatas encontra-se relativamente bem conservado e apresenta uma noção de escala e gosto característicos do barroco português setecentista (apesar das intervenções nos séculos XIX e XX). Para se entender esta mudança de gosto é importante focar um brevíssimo perfil da encomendadora enquadrado na complexa conjuntura política que ditou o seu casamento com Carlos II de Inglaterra (1630-1685) e posterior regresso a Portugal e considerar os aspectos mais significativos do edifício no contexto da arquitectura áulica [palaciana] Portuguesa do início do século XVIII.

Palácio das Açafatas, ou palácio Centeno [c. 1910]
Alameda de Santo António dos Capuchos, 1-5
Joshua Benoliel, in AML

Com o decorrer dos anos, o Palácio sofreu algumas alterações, sendo as mais significativas, as realizadas após a sua aquisição, cerca de 1900, por António Centeno, que então realiza obras, incluindo a construção da capela, donde herdou o nome pelo qual é hoje conhecido Palácio Centeno.
O seu interior é rico em azulejos do séc. XVIII, considerados como exemplares de grande interesse na história da azulejaria portuguesa. Os tectos da sala nobre são decorados com pinturas de grande delicadeza, de cunho marcadamente novecentista, atribuídos a Bigaglia.

Saturday 26 December 2015

Palácio dos Duques de Palmela, ao Rato

O Palácio Palmela, da  Rua da  Escola Politécnica, ou  do  Rato — como é  mais conhecido — apresenta um  semblante enobrecido pelos restauros do século XIX, coisa alguma mostrando do aspecto primitivo que  deve ter  tido no final do século XVIII. O Palácio teve aura aristocrática e mundana nos meados da  segunda metade do  século XIX, mormente desde que foi  restaurado em 1865, e  até  quase ao  final do  século passado. Pode consi­derar-se pelo seu  precioso recheio artístico — o de  maior relevo em  Lisboa — um verdadeiro museu. [ARAÚJO: 1952]

 
Edifício grandioso, de finais do século XVIII, foi projectado em 1792 pelo arqº Manuel Caetano de Sousa. Adquirido em 1823 pelo primeiro conde da Póvoa, Henrique Teixeira de Sampaio, que encarrega a arqº Luigi Chiari de efectuar uma campanha de obras. Dessa fase, resulta o actual aspecto da construção, bem como a capela e a escadaria nobre. Em 1837, por ocasião do casamento de D. Maria de Sousa, irmã do proprietário, com o filho do duque de Palmela, D. Domingos de Sousa Holstein, é despoletada uma nova campanha de obras, centrada na consolidação do andar superior.

Palácio dos Duques de Palmela [c. 1901]
Rua da Escola Politécnica, 126; ao fundo o Largo do Rato, vendo-se a Calçada Bento da Rocha Cabral
A  Fachada Principal é constituída por um  corpo único, com quatro pavimentos, revestidos de  cantaria o  andar térreo e  o primeiro andar, ou  sobreloja, e de  már­more rosa da Arrábida (1902) o  andar no­bre  e  o superior.
Fotógrafo não identificado, in AML

Nos  Jardins vêem-se também bustos e peças de  escultura ornamentais. O Pavilhão Escultórico no jardim (foto abaixo), concebido pelo escultor francês A. Calmels em 1902, assumiu um papel importante na ambiência artístico-criativa da excelente escultora que foi D. Maria de Sousa Holstein, 3ª duquesa de Palmela

Palácio dos Duques de Palmela, jardins [10 de Fevereiro de 1927]
Pavilhão Escultórico no jardim, atingido na sequência da Revolta de Fevereiro de 1927
Fotógrafo não identificado, in AML

A fachada principal, virada a Oeste, compõe-se de um corpo único, onde uma cornija saliente marca a passagem para o último piso. Rasgam-se ao longo desta fachada, janelas de secção rectangular, que ao nível do terceiro e quarto piso (ao centro) são percorridas por varandas com gradeamento em ferro forjado.

Palácio dos Duques de Palmela [10 de Fevereiro de 1927]
Paredes e as árvores caídas na sequência da Revolta de Fevereiro de 1927
Fotógrafo não identificado, in AML

O Palácio sofreu um violento incêndio, em 1981, que destruiu completamente a capela e provocou graves danos no edifício. Os trabalhos de recuperação conseguiram reconstruir o edifício, perdendo-se, no entanto, valiosas obras de arte e muitos dos trabalhos de marcenaria. O edifício e os jardins sofreram danos elevados durante a  Revolta de Fevereiro de 1927, devido ao impacto causado por granadas de artilharia (2ª e 3ª imagem).

Palácio dos Duques de Palmela [c. 1952]
O  portão principal, n.º 126 (reconstru­ção  do começo do actual século), em  altura que  atinge o  andar nobre, emoldurado de cantaria, sobrepujado de  arquivolta, rema­tada por pedra de  armas dos Sousas de Arronches (as  que usavam os  Sousas do Calhariz); ladeando o portão dois hermes monumentais, representando um  o  «Trabalho», outro a «Força moral» (Anatole Calmeis-1902).
Salvador de Almeida Fernandes, in AML

A ladear a porta principal encontramos duas esculturas alegóricas (1902), aludindo à Força Mental e ao Trabalho, da autoria de Anatole Calmels, (ainda não existentes em 1901, como comprova a 1ª imagem) sendo o remate da entrada coroado por um frontão curvo com as armas dos duques de Palmela dos Sousas de Arronches (as que usavam os Sousas do Calhariz). Actualmente encontra-se aqui instalada a Procuradoria Geral da República.

Palácio dos Duques de Palmela [c. 1945]
Rua da Escola Politécnica, ao fundo o Largo do Rato, vendo-se a Calçada Bento da Rocha Cabral
Os muros dos jardins (reconstrução de 1902), ladeando pelo Sul e Norte a frente do corpo do palácio, sobrepujado de ba­laustrada de cantaria (que substituiu a an­tecedente guarda da gradaria) e adornados de vasos também de cantaria (no muro do lado Sul situa-se uma porta, emoldurada de cantaria simples, que dá acesso aos jardins, e sobrepujada pelo brasão do armas).
Eduardo Portugal, in AML

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1952.
DGPC.

Friday 25 December 2015

Hotel Avenida Palace

O Hotel Avenida Palace — o único Palace no centro de Lisboa — foi projectado nos finais do séc. XIX (1890-1892), pelo arq.º José Luís Monteiro, um dos mais distintos arquitectos portugueses, que também projectou a Estação do Rossio (ao fundo). Foram utilizados na sua construção os mais avançados conhecimentos da técnica e os melhores materiais à época. Foi construído para apoio à estação de comboios do Rossio por encomenda Real Companhia dos Caminhos-de-Ferro Portugueses. Inaugurado em 1892 com o nome de Grande Hotel Internacional, só no ano seguinte se passou a chamar Avenida Palace Hotel.

Hotel Avenida Palace [entre 1906 e 1908]
Praça dos Restauradores
 Frequentado por individualidades do mundo da Finança, da Política, da Igreja e das Artes, assistiu à implantação da República Portuguesa, à Guerra Civil de Espanha e às duas Grandes Guerras, tendo então sido palco activo da intriga política e da espionagem.
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente

A Waggons Lits, companhia ligada à exploração ferroviária, apresentou à Real Companhia uma proposta para que o novo edifício fosse aproveitado para um grande hotel de estação, semelhante aos Palaces de outras capitais europeias. A exploração ficaria a seu cargo, tal como o direito de preferência, em caso de venda. 
Em vez de um novo edifício de linguagem neo-manuelina, que tanto polémica suscitou, surge uma construção de estilo boulevardier do Segundo Império, composição classizante influenciada pela arquitectura francesa tão ao gosto beaux-arts de José Luís Monteiro, traquejado nas construções de Paris. A fachada principal, por exemplo, apresenta um janelão que não deixa de evocar a arquitectura do ferro da Gare du Nord, em Paris. Nada é deixado ao acaso. A Praça D. Pedro IV, junto ao hotel, foi ornamentada em 1889 com duas fontes de bronze fabricadas em França.

Hotel Avenida Palace [1895]
Praça dos Restauradores e 
Rua do Príncipe  hoje 1.º de Dezembro
Augusto Bobobe, in Lisboa de Antigamente
Hotel Avenida Palace [post. 1911]
Rua 1.º de Dezembro; ao fundo entrevê-se a Praça dos Restauradores
Joshua Benoliel, in AML

O objectivo é conseguir um hotel de luxo digno da melhor aristocracia europeia e da burguesia endinheirada de todo o mundo. Porque o Rossio se tornara já o ponto de encontro dos proeminentes e o centro político do país — o Café Martinho, das tertúlias políticas e literárias, ficava mesmo em frente.
O projecto original — com menos um piso — estabelecia uma interessante ligação directa entre a Estação e a Praça dos Restauradores, através de uma galeria interior, retirada mais tarde.
A vista era mágica: a Norte, a Avenida imensa, baptizada com o nome de Liberdade, seis anos antes, por altura do casamento do príncipe D. Carlos com D. Amélia de Orleães; a Sul, o Tejo e Baixa Pombalina; a Este o velho casario do Castelo a impor-se no recorte de uma colina.
 
Hotel Avenida Palace [1895]
Praça dos Restauradores
Este simbólico Hotel foi inaugurado em 1892, considerado, sobretudo na Belle Époque, um dos melhores hotéis da Europa pelo seu glamour, localização e serviço. 
Augusto Bobobe, in Lisboa de Antigamente
 
A decoração interior era requintada, estilo Belle Époque. Os tapetes, reposteiros e estofos das otomanas eram do mais distinto no mercado de qualidade. A mobília foi adquirida directamente da casa Maple, um dos armazéns mais elegantes de Londres. Os quartos primavam, quase todos, pelo forro de seda ou papel de couro. As paredes da sala de jantar estavam revestidas por um veludo de ramagens, interrompido por um lambri em madeira de carvalho. Todos os quartos dispunham de aparelhos de aquecimento e ventilação e, em quase todos, havia já uma casa de banho. Os hóspedes tinham à disposição um elevador hidráulico para se deslocarem de piso e a cozinha do Hotel era reconhecida como uma das melhores de Lisboa.
Uma orquestra privativa inundava os salões de música durante os célebres bailes de sábado e, enquanto os pares desafiavam amores, espiões de várias proveniências “espreitavam” conspirações. Um Serviço Especial de Noite, marcado por uma requintada cozinha francesa, “à la carte”, entretinha as horas e
“temperava” as emoções mais aguerridas. Os aromas das essências de Paris deixavam no ar um travo adocicado de uma monarquia decadente. [in hotelavenidapalace.pt]
 
Hotel Avenida Palace [1892]
Rua 1.º de Dezembro; Praça D. João da Câmara, Estação do Rossio e Café Martinho
Em 1893, o Grande Hotel Internacional passa a chamar-se Avenida Palace, tal como os seus congéneres europeus. Os Palaces simbolizavam o esplendor da corte, numa época em que a aristocracia de berço começava a ser ultrapassada pelo dinheiro da burguesia.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Rua Garrett - Iluminações de Natal

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett (1799-1854). Iniciador do Romantismo, refundador do teatro português, criador do lirismo moderno, criador da prosa moderna, jornalista, político, legislador, Garrett é um exemplo de aliança inseparável entre o homem político e o escritor, o cidadão e o poeta. É considerado, por muitos autores, como o escritor português mais completo de todo o século XIX, porquanto nos deixou obras-primas na poesia, no teatro e na prosa, inovando a escrita e a composição em cada um destes géneros literários.

De origem irlandesa, a grafia do seu último apelido «garet» foi por ele próprio alterada na sua assinatura para «garrett» com o objectivo que as pessoas lessem a letra tê para pronunciar correctamente o seu nome como «garrete».

Rua Garrett [1960]
Antiga Rua do Chiado; O topónimo Rua Garrett, no Chiado, foi atribuído no âmbito das Comemorações do tricentenário da morte de Camões em 1880.
Armando Serôdio, in AML

Thursday 24 December 2015

Avenida da Liberdade: «Natal do Sinaleiro»

O «Natal do Sinaleiro» foi uma iniciativa criada em Portugal pelo ACP antes da II Guerra Mundial. Retomada em 1949, esta acção solidária juntava populações e empresas que reconhecidas pelo papel dos polícias sinaleiros, no trânsito das cidades, lhes ofereciam os mais diversos produtos para festejarem melhor a época natalícia: garrafões de vinho, sacos de batatas, bacalhaus e, até, — como comprovam as fotografias da época — leitões vivos!?  - Lisboa d'outros tempos.

O sinaleiro e o leitão na Avenida da Liberdade |c. 1930|
Natal do Sinaleiro; nota-se o Palacete Conceição e Silva no passeio oriental da Avenida.
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

Avenida Guerra Junqueiro - Iluminações de Natal

Abílio Manuel Guerra Junqueiro nasceu em 17 de Setembro de 1850 em Freixo de Espada à Cinta e faleceu em 7 de Julho de 1923, em Lisboa. Licenciou-se em Direito em Coimbra, durante um período que coincidiu com o movimento de agitação ideológica em que eclodiu a Questão Coimbrã. Foi deputado, escritor e poeta. Manteve uma intensa escrita poética, aderiu ao partido Republicano e regressou à política com a implantação da República, tendo sido nomeado Ministro de Portugal em Berna.
A vida rural inspirou-lhe «Os Simples» (1892), a sua simpatia pelos pobres continua em «Os Pobrezinhos», escreveu «A Velhice do Padre Eterno», uma obra de sátira anticlerical e ainda dentro da sátira política «Finis Patriae» (1890). Destaque ainda para «A Morte de D. João» (1874), poema simultaneamente panfletário, satírico e religioso e «Oração à Luz» (1904). [cm-lisboa.pt]

Avenida Guerra Junqueiro [c. 1970]
«Poeta 1850-1923»
Antiga Avenida do Dr. António José de Almeida, antes Avenida 12 do Novo Bairro no seguimento da Avenida Almirante Reis
Estúdio Mário Novais,
in Biblioteca de Arte da F.C.G..
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