Monday 5 October 2015

Largo do Calvário: Palácio e Quinta de Alcântara

« Há trezentos e trinta anos que isto por aqui é — o Calvário
[...]
Onde se levanta hoje o quarteirão urbano entre as Ruas Leão de Oliveira e da Creche [actual Rua José Dias Coelho, vd. 2ª imagem] — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , elevava-se na segunda metade de quinhentos, com sua quinta a fazer-lhe grinalda de flores e de frescura, a casa de um italiano, João Baptista Rovelasco, arrematante dos direitos reais. Logo a seguir a 1580 Felipe I de Portugal, por dividas à Coroa, ou com esse pretexto, confiscou a propriedade que os representantes do rei espanhol reedificaram ou acrescentaram em 1605, pelo arquitecto Teodósio Frias, mestre das obras da cidade, e depois do Paço da Ribeira.

Largo do Calvário |1965|
Quarteirão entre as Ruas José Dias Coelho (1ª a dir.) e Leão de Oliveira (ao fundo à dir.).
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

No Palácio de Alcântara não habitou nunca nenhum dos Felipes, ou dos governadores do Reino. D. João IV, porém, fez dele sua residência, de verão pelo menos, e de sua real família; o príncipe herdeiro D. Teodósio aqui morreu em 1653. D. Afonso VI, seu irmão D. Pedro II, com as duas Rainhas, primeira e ,segunda mulher, também ocuparam o delicioso Paço do Calvário, vivendo afastado do bulício de Lisboa, escondido quási dentro da encantadora Quinta da Ninfa [Quinta de el-Rei. vd. mapa], estância de repouso, propicia a doces e amorosas vidas.
Aqui morreu D. Pedro II em 1706, e o Paço passou então a ser habitado por seu filho, o Infante D. António (irmão de D. João V), e que nele assistia quando surgiu o Terramoto.
 
Largo do Calvário |1949|
Rua José Dias Coelho, antiga da Creche
Mário Novais, in Lisboa de Antigamente
 
Arruinadas as régias casas, reedificadas dez anos depois, nunca mais o Palácio foi residência real. Moraram então nele dignitários, fidalgos, principais da côrte; foi fábrica de chitas, deixou de o ser, arrastou-se como propriedade de aluguer - uma sombra afinal. Em 1876 os terrenos da Quinta da Ninfa foram cedidos pela Casa Real à Câmara Municipal de Belém, da qual a freguesia de Alcântara dependia; os restos do palácio foram demolidos pouco depois. Começava o bairro do Calvário.
Ora, Dilecto, Palácio e Quinta eram tudo isto à nossa direita (lado Norte), e deles - «nem raça», como diz o povo.»  
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 30-31, 1929)

Largo do Calvário: Palácio e Quinta de Alcântara
Levantamento topográfica de Lisboa, 1857 [fragmento} sob orientação do Engº. Filipe Folque

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